Energia Renovável Chinesa na África: Tábua de Salvação ou uma bomba-relógio?

Ao longo da última década, a China se tornou uma fonte de investimentos importante para projetos de energia renovável na África. Com abundantes recursos solares, eólicos e hidrelétricos, a África tem um enorme potencial para o desenvolvimento de energias renováveis. Por outro lado, a maioria dos países africanos enfrenta graves carências energéticas e dependem fortemente de combustíveis fósseis para a geração elétrica. Por isso, o continente africano mostra-se um destino atraente para os investimentos da China em energia limpa.

Tendências nos investimentos

De acordo com um relatório de 2021 da African Climate Foundation and Natural Resources Defence Council e do Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, desde o ano 2000 a China financiou mais de 13 bilhões de dólares e desenvolveu mais de 10 gigawatts de capacidade de energia limpa em toda a África. Os investimentos chineses em projetos de energia renovável na África cresceram a uma taxa média anual de 26% entre 2010 e 2020, sendo a energia solar, a energia hidrelétrica e a eólica os três principais empreendimentos. Fonte: Relatório da African Climate Foundation and Natural Resources Defence Council e do Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston

A Etiópia exemplifica a tendência de crescimento dos investimentos chineses nas energias renováveis africanas. As empresas chinesas financiaram e desenvolveram grandes barragens hidrelétricas e parques eólicos no país durante a última década. A China também investiu mais de 4 bilhões de dólares no setor energético da Etiópia entre 2011 e 2018, representando mais de 50% da nova capacidade de produção de energia. Recentemente, a nação africana e a China concordaram em estabelecer um centro para desenvolver o potencial de energia renovável da Etiópia, cimentando ainda mais esta cooperação. O Quênia é outro dos principais destinatários dos investimentos chineses em energias renováveis. A China financiou e construiu grandes fazendas solares e eólicas em todo o país, ajudando a expandir o acesso às energias renováveis, especialmente nas zonas rurais. Merece destaque o projeto de energia eólica do Lago Turkana, de 310 MW, que foi construído por uma empresa chinesa e é atualmente o maior parque eólico da África. Este empreendimento entrou em operação em 2017, fornecendo 15% da capacidade elétrica do Quênia.

O que leva a China a investir em energias renováveis na África?

Há diversas motivações, entre as quais:

  • As indústrias domésticas de energia solar, eólica e hidroelétrica da China precisavam de oportunidades internacionais à medida que o mercado interno se satura.

  • O financiamento das energias renováveis em África fortalece a imagem chinesa de um parceiro no desenvolvimento africano (soft power).

  • A China investe na África tendo em vista a sua segurança energética. Como a economia chinesa cresce a uma velocidade vertiginosa, o país tornou-se cada vez mais dependente do petróleo e de gás importados. Investir nas energias renováveis africanas significa mais combustíveis fósseis disponíveis no mercado para os chineses - lembrando que vários países africanos são membros da OPEP.

  • A taxa de acesso à eletricidade na África Subsariana é de apenas 43% e a maioria das redes não é confiável - ou seja, há um potencial de crescimento gigantesco. A China cria novos mercados para as suas empresas de construção, equipamentos e engenharia, financiando projetos de geração, transmissão e distribuição de energia. A natureza descentralizada das energias renováveis também permite à China construir soluções de mini-redes e fora da rede, alcançando zonas rurais que podem não beneficiar de redes nacionais centralizadas.

Preocupações e Desafios

O avanço chinês na África também levanta preocupações. Um deles é que a China exporta principalmente equipamentos e serviços de construção, em vez de desenvolver capacidades de produção locais. Além disso, as empresas chinesas têm enfrentado críticas em torno de violações dos direitos trabalhistas e requisitos de conteúdo local. Os grandes projetos hidroeléctricos da Zâmbia financiados pela China, por exemplo, enfrentaram protestos de trabalhadores zambianos devido às más condições de trabalho. De acordo com a Universidade das Nações Unidas, os projetos chineses em África parecem frequentemente andar de mãos dadas com protestos civis. Fonte: Relatório da Universidade das Nações Unidas

Os custos de alguns projetos de energias renováveis apoiados pela China provocaram preocupações em torno dos países africanos que contraíram dívidas insustentáveis. Em 2020, o Quênia rejeitou o envolvimento da China no projeto de carvão em Lamu, em parte devido a preocupações sobre preços excessivos e as consequências ambientais e de saúde entre os habitantes locais. Recentemente, a Zâmbia assistiu a negociações prolongadas com a China sobre a reestruturação da dívida do seu setor energético. No entanto, a China tomou algumas medidas para responder a estas críticas. No Fórum sobre Cooperação China-África de 2018, o Presidente Xi Jinping comprometeu-se a apoiar a formação de competências para os africanos e a aumentar os requisitos de conteúdo local para os projetos. Durante a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do G20 em 2020, a China cooperou estreitamente com os países africanos, congelando o reembolso da dívida aos países que enfrentavam problemas de liquidez.

Próximos passos

Apesar destes desafios, os investimentos da China em energias renováveis representam uma tábua de salvação vital para os países africanos que procuram fazer crescer suas economias de forma sustentável e se livrar da dependência dos combustíveis fósseis. A África ainda tem um potencial de energia renovável estimado em mais de 470 gigawatts, dos quais apenas uma pequena fração foi realizada. Com políticas de apoio para lidar com energias solares e eólicas intermitentes, as energias renováveis poderão eventualmente ultrapassar em muito os combustíveis fósseis em todo o continente.

Pesquisas conjuntas entre instituições africanas e chinesas podem desbloquear novas tecnologias e modelos de negócios adaptados à região. Em 2021, a China e a África cooperaram para lançar um novo centro de energia sustentável centrado em mini-redes e na cozinha descarbonizada. Com medidas adequadas em matéria de transparência, sustentabilidade da dívida e conteúdo local, China e África podem construir parcerias que aceleram uma transição energética verde e inclusiva em todo o continente.

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