Aumento de eletricidade gratuita levantam preocupacoes para investidores em energia limpa

Algo inimaginável está acontecendo nos mercados energéticos da Europa: os preços do KWh estão ficando negativos. Durante o mês de maio, as fazendas solares espanholas e as turbinas eólicas na Noruega foram tão produtivas que uma porcentagem recorde de energia limpa inundou a rede. Por muitas vezes, a oferta excedia largamente a demanda e os produtores precisavam de fazer algo com toda essa energia pois não havia baterias (BESS) suficientes para o armazenamento.

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Isto significa que mais de um milhão de consumidores conseguiram obter eletricidade gratuita para aquecer as suas casas ou carregar os seus veículos. Embora seja bom para eles, o fenômeno vem acontecendo com tanta frequência que está levantando preocupações entre os investidores sobre a rentabilidade de se investir em fontes renováveis de energia.

Os preços negativos vão desacelerar a implantação de capacidade renovável para a maioria dos players”, disse Axel Thiemann, CEO da desenvolvedora solar Sonnedix. “Isso afeta sua capacidade de investir em níveis razoáveis.”

Em alguns países - não é o caso do Brasil - a eletricidade é comercializada no atacado, de forma semelhante à gasolina ou diesel. Os preços negativos não são novidade, tendo ocorrido pela primeira vez na Alemanha em 2008, quando o país aumentou a produção eólica e solar. Outro exemplo de preços negativos no mercado de energia ocorreu no início da pandemia, quando as petroleiras não tinham onde estocar o óleo e começaram a pagar para quem quisesse levá-los.

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A questão aqui é que se no passado eles eram raros, hoje não é mais o caso.

Aumento de Preços Negativos no Mercado de Energia

De acordo com o monitor de mercado da União Europeia, conhecido como ACER, houve um aumento de doze vezes na ocorrência de preços negativos no atacado elétrico no ano passado. Um relatório da agência de março chamou-lhe “uma explosão”, com o maior número de casos na região nórdica. Na Alemanha, o maior consumidor de energia da Europa, houve cerca de 300 horas de preços abaixo de zero no ano passado e isso pode dobrar em 2024.

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Então, qual é a solução para produtores e investidores? A solução óbvia é construir mais baterias – desde instalações na residência das pessoas até grandes instalações de BESS. Elas armazenariam o excesso de eletricidade para distribuição nos momentos em que o vento não sopra ou o sol não brilha.

Precisamos gerenciar a intermitência no mercado”, disse Birgitte Ringstad Vartdal, CEO da Statkraft AS, em entrevista à Bloomberg Television. “Os preços negativos também são uma oportunidade para criar valor.”

Impacto Global dos Preços Negativos

O fenômeno também está acontecendo fora da Europa. Na Austrália, os preços no Mercado Nacional de Eletricidade caíram abaixo de zero, um recorde de 14% no ano passado, de acordo com a BloombergNEF. Tal porcentagem tem aumentado de forma constante desde 2018, e prevê-se que os problemas vão se agravar com a construção contínua de novas fontes renováveis ​​e a utilização da energia solar nos telhados.

Na Califórnia, os preços também se tornaram negativos devido a uma explosão de novos projetos solares e aos baixos preços do gás. Até abril deste ano, houve 592 horas em que a eletricidade ficou abaixo de zero – já mais do que o total do ano passado.

A ironia é que a construção de usinas solares e eólicas promove condições que podem desencorajar a construção de mais parques – algo chamado canibalização do preço da energia. Os empreendedores do setor podem ser relutantes em fazer investimentos futuros porque não estão recebendo o suficiente pela energia limpa que produzem agora.

“O efeito é agora tão forte que o interesse em investir em parques solares está diminuindo drasticamente”, disse Alexander Hauk, porta-voz da Associação Alemã de Serviços Públicos Locais, ou VKU. O grupo representa mais de 700 empresas em todo o país.

Futuro da Energia Renovável na Europa

A ocorrência regular de preços abaixo de zero pode tornar-se o novo normal, uma vez que a Europa irá gerar mais de dois terços da sua energia a partir de fontes renováveis ​​até 2030. A geração zero de CO2 fornecerá 86% da eletricidade da Europa até 2030, com as energias renováveis ​​a 68% e a nuclear a 18%. Entre as renováveis destacam-se o modal fotovoltaico e o eólico, que saltaram de 17% em 2019 para 28% em 2023; e devem chegar a 54% em 2030.

Enquanto isso, os consumidores estão aproveitando. Um número crescente de europeus já percebeu que é possível obter poupanças se forem mais pró-ativos e ajustarem o seu consumo a períodos em que os preços são mais baixos. “Quando você obtém preços negativos, você carrega seu carro ao máximo, aquece a casa de 1 a 2°C a mais e também aumenta o aquecedor de água”, disse o usuário Kim Poulsen, que mora ao norte de Gotemburgo, na Suécia.

O crescimento dos preços abaixo de zero não diminuirá até meados da década de 2030, disse Ed Porter, diretor da Modo Energy. É nesse tempo que os sistemas de armazenamento de energia da Europa deverão ser suficientemente grandes para absorver o excesso e ter um impacto significativo nos preços.

De acordo com a Aurora Energy Research, haverá um aumento de sete vezes, para mais de 50 gigawatts, na capacidade de armazenamento ligada às redes de transmissão até ao final da década. O Reino Unido, a Itália e a Irlanda são os três principais mercados para investimento em armazenamento.

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