Transicao Energetica pode criar uma frota de navios fantasmas: O que o futuro reserva para o transporte marítimo?
Cerca de ⅓ dos navios do mundo foram construídos para transportar combustíveis fósseis e, à medida que a humanidade caminha para a eletrificação e fontes limpas de energia, tais embarcações correm o risco de perderem sua "profissão".
Avaliando as ameaças enfrentadas pelo transporte marítimo de combustíveis fósseis
Quando pensamos em “ativos irrecuperáveis” – investimentos que se tornarão inúteis devido à descarbonização da matriz energética global – o que vem à mente? Provavelmente algo grande e estático como um campo petrolífero ou uma usina termoelétrica movida a carvão. Porém, esse mesmo destino terá parte considerável da frota marítima – navios em processo de se tornarem fantasmas, mesmo que os seus proprietários ainda não o percebam. Esse é o argumento trabalhado em um artigo publicado este mês por pesquisadores da University College London e da Fundação Kühne da Suíça.
De acordo com os autores do estudo, mais de um terço da marinha mercante do mundo transporta combustíveis fósseis, incluindo cerca de 13.000 navios petroleiros (óleo cru), aproximadamente 3.000 que transportam gás natural liquefeito e 2.500 graneleiros (transporte de carvão). E qual é o preço de todas essas embarcações somadas? Quase 600 bilhões de dólares - incluindo também novos navios encomendados mas que ainda não foram entregues.
O documento analisa o que aconteceria a este setor se o mundo conseguisse limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, que é a meta do Acordo de Paris. Em tal cenário, as emissões globais de CO2 seriam reduzidas a zero até 2050, o que significaria uma queda vertiginosa na procura de combustíveis fósseis. Se o objetivo for alcançado, 286 bilhões de dólares em valor seriam destruídos - que representa cerca de 37% do segmento.
É preciso fazer duas observações sobre o parágrafo anterior. A primeira é que tamanho do valor destruído é um risco máximo - ou seja, não levam em conta se os navios poderiam ser reaproveitados para transportar outras mercadorias. Isto por exemplo é algo relativamente simples para os navios graneleiros que transportam carvão. Adaptá-los para transportar outros produtos a granel, incluindo materiais necessários para alimentar sistemas de energia de baixo carbono.
Essa reorientação será muito mais complicada para os navios-tanque de GNL, que são dispendiosamente equipados para transportar a sua carga a temperaturas extremamente baixas. Os petroleiros podem, em princípio, ser adaptados para transportar metanol e outros biocombustíveis, embora as perspectivas de crescimento destes combustíveis permaneçam incertas.
A segunda é que embora muitos possam considerar o cenário de emissão zero em 2050 um cenário desejável, poucos analistas o veem como provável. Certamente, os investidores em operadores de navios-tanque não mostram sinais de pânico perante esta perspectiva. As ações da Frontline, empresa norueguesa que opera petroleiros, subiram 159% nos últimos dois anos. Os rivais Hafnia e Scorpio Tankers também mais que dobraram de valor no mesmo período.
Dois foram os motivos que impulsionaram a atividade do setor de transporte marítimo de combustíveis fósseis. O primeiro foi a invasão da Ucrânia pela Rússia, que perturbou o comércio global de petróleo e gás, provocando um aumento nas entregas marítimas. A segunda foi a crise de segurança no Mar Vermelho, que obrigou os petroleiros a percorrer rotas mais longas, aumentando a demanda.
“A visão de longo prazo para a procura de petróleo não é necessariamente a mesma que a visão para o comércio internacional de petróleo”, salienta Tim Smith, que lidera a investigação sobre os mercados de petróleo e petroleiros na consultora Maritime Strategies International. Mesmo assim, nem o marinheiro mais otimista se recusaria a reconhecer a dramática queda da procura que se aproxima devido à transição energética.
Considerações Adicionais:
Impactos Sociais e Econômicos: As implicações sociais e econômicas da obsolescência da frota marítima de combustíveis fósseis devem ser cuidadosamente avaliadas, buscando medidas para mitigar os impactos negativos sobre trabalhadores e comunidades costeiras.
Novos Investimentos: É crucial que os novos investimentos no setor marítimo considerem os riscos da transição energética e priorizem soluções sustentáveis, como navios movidos a combustíveis renováveis e tecnologias de descarbonização.
Regulamentação e Incentivos: Implementar políticas públicas que incentivem a modernização da frota, a descarbonização das operações marítimas e a diversificação das atividades do setor.
Diálogo e Cooperação: Promover o diálogo e a colaboração entre armadores, governos, instituições financeiras e outros stakeholders para encontrar soluções conjuntas para os desafios da transição energética.
A transição energética representa um grande desafio para a frota marítima de combustíveis fósseis, mas também abre oportunidades para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para o transporte marítimo. O sucesso nesse processo dependerá da colaboração entre todos os stakeholders envolvidos, buscando um futuro mais verde e próspero para o setor.
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