Energia Solar e Agricultura

Quando pensamos em energia solar, normalmente a associamos com energia limpa, descontos na conta de luz e placas solares nos telhados das residências. Porém, cada vez mais pessoas começam a associar o modal solar com uma das atividades econômicas mais antigas: a agricultura. Assim, neste texto pretendo apresentar ao leitor a ideia do “Agrivoltaico”. Mas o que tal termo significa exatamente? Ele vem da junção de duas palavras: “agri” e “voltaico” - o primeiro está relacionado à ciência do cultivo do solo e o segundo é relativo à produção de energia.

Agrivoltaico é a utilização de um terreno para duas finalidades: a agricultura e a produção de energia. Os agricultores instalam sistemas solares fotovoltaicos em terras agrícolas que os fazendeiros também utilizam para produção de alimentos. Algumas culturas, como por exemplo a apicultura e algumas hortaliças, tem uma performance melhor com mais sombra e menos insolação - e é aí que os painéis solares entram. A ideia é especialmente útil para culturas de pastoreio, pois ovelhas e gado pastam em torno dos painéis solares, eliminando assim a necessidade de corte de grama. Além disso, os animais utilizam a sombra dos painéis para se protegeram do sol, reduzindo seu consumo de água. Nos EUA, alguns agricultores também utilizam os módulos solares como cercas.

E como a ideia de juntar a energia solar com a agricultura surgiu? Tudo começou nos anos 80, com Adolf Goetzberger (fundador do Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems) e Dr. Armin Zastrow que perceberam que a energia solar e a agricultura não precisavam necessariamente competir pelo uso do solo, mas sim se complementar na utilização da mesma e, desta forma, criaram tal teoria para o uso duplo da terra. Merece destaque também o pesquisador japonês Dr. Akira Nagashima que criou os primeiros protótipos dessa tecnologia em 2004, após sugerir que painéis solares fossem combinados com plantações a fim de proteger as mesmas do excesso de iluminação.

A “Colméia Solar” - tecnologia do conglomerado sul-coreano Hanwha Group

Há várias vantagens em combinar a energia solar com a agricultura, mas talvez a principal seja a redução da utilização de água. As plantas atingem um ponto de saturação de luz, onde maior insolação não se converte necessariamente em mais benefícios. Assim, os painéis solares podem funcionar como um escudo, protegendo as culturas do sol intenso e preservando a água da irrigação. Vale lembrar que 85% da água consumida por humanos é utilizada na agropecuária.

Em 2019 foi publicado um estudo por Greg Barron-Gafford, da Universidade do Arizona, onde mostrou-se que tomates e jalapeños usavam água de forma mais eficiente quando cultivados sob painéis solares. Em regiões muito áridas tal tecnologia pode vir a ser muito importante. Após a implementação de um projeto-piloto agrovoltaico no Quênia, estudiosos perceberam que as necessidades de irrigação caíram 47%, mas a produção de couves foi 24% maior. Para os painéis solares também há benefícios de ficar perto de plantas. Em dias muito quentes a produtividade dos módulos fotovoltaicos tende a diminuir, mas como as plantações ajudam a amenizar a temperatura, há ganhos de performance de até 10% dos painéis.

Apicultura

De todas as modalidades agrícolas, talvez a que mais tenha se beneficiado até o momento do teoria do agrivoltaico é a apicultura. No Brasil, A AXS Energia começou a criar abelhas dentro de uma de suas usinas solares, em São Gonçalo do Sapucaí (MG) e deve produzir mais de 2 toneladas de mel anualmente. Nos EUA a empresa Bolton Bees (Abelhas Bolton) possui mais de 10 fazendas e criou sua própria marca de mel: a Solar Honey (Mel do Sol). Na Espanha, a Endesa (subsidiária da ENEL) juntou forças com duas startups espanholas (Protofy e Smartbees) em um projeto para a produção de “mel solar” na central fotovoltaica de Las Corchas. Mas porque a criação de abelhas caí tão bem com a energia solar? De uma maneira bem resumida: fazendas solares são instaladas em áreas com muita insolação e, em tais localidades, é fácil o cultivo de flores, que é a matéria-prima que as abelhas precisam para a produção de mel.

De acordo com os dados do IBGE, o Brasil tem cerca de 350 mil produtores de mel e produz aproximadamente 55,8 mil toneladas por ano (80% é exportado), o que faz do país o décimo maior produtor de mel do mundo. Se as ideias do agrivoltaico se disseminarem neste segmento, isso significaria mais renda e maior produtividade para tais trabalhadores, além de uma menor dependência da matriz energética brasileira de combustíveis fósseis.

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